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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Cortes Suspensos* I


(I)
Tropeço na calçada portuguesa originária dos instintos racionais do ser humano,
Divago em pensamentos contraditórios com o cenário coincidente das tonalidades expostas nos quadros surrealistas.
Entoa vozes tremidas de um lado e de outro,
Mas.. por mais estranho que pareça há inexistência de caruncho, e a leveza de uma pena...
E sinto-me como uma personagem de ficção!

Mas não! Sou real!
Sangue circula em mil e uma velocidades,
Motor orgânico falha em limar suas arestas e extremidades,
Ora estou, ora não estou, ora finjo estar.

Confesso!! Fujo em abraçar a realidade,
Ela é negra e suja,
Imagino contornos de vermelho,
Nódoas de sangue por onde calco o meu pé..
Pessoas aleatórias, o mesmo contexto, um deficiente capitalismo.
E sempre o raio do mesmo disco,
Aquele que harmoniza mas não convence.

Por entre as gotas de chuva que borrifam minha face,
Algumas são colaterais, e não somos perfeitos não!
E amar sem pensar no status social?

(II)
E sufoco nestas chamas sem cinza,
Sem sinais de fumo auxiliante,
Abraçado em paredes brancas e com nódoas!
Em perfeita desordem e incapaz de encontrar a chave que coincide com a arca dividida pelos hemisférios equilibrados do miolo.
(…)
E em miolos de pão, rezam as fábulas que um pequeno jovem desenhava o seu trajeto para poder orientar-se na ruela hipnotizante…
Ruela que sacudia os medos afastava os abutres e fantoches de sua rotineira.
Ruela adjuvante do destino enigmático que cruzava todas as curiosidades por desvendar com adversidades picantes que seus ossos se faziam sentir.

(III)
Navegação psicadélica desadunada…
E tudo é nada e os indícios rupestres são tudo!
Castelo de areia ergue-se em rochas húmidas musgosas,
Pétalas de rosa abatem o cio do tempo.
Risos malandros do gato fadista emergem no piano sem som,
Sombrosos arrepios engolem o suor das premissas em reticências.
E tudo mantém a sua essência, gulosa por nacos de inspiração,
Com recheio de apreciação sem analogia,
Perdida em espaços de lama, onde os boémios querem tudo menos fama.
Caverna dos tesos, sítio dos enredos, sem recurso a presunçosos de epistemologia negra,
Furacão de insígnias flutuantes no imaginário eloquente,
Com argumentos de sorriso em todas as frentes.
Tributos a Deus Baco às vezes em sinal de dilúvio,
Apupos a ingénuos ociosos, os fura-vidas no tombar das portas da perceção.

André Castro


*Partes de Escritas Imperfeitas

2 comentários:

  1. O texto onde mais viajei a ler-te, já to havia dito antes,
    André Castro... ou Martinho Falcão ;)

    um terramoto de luz é o que sinto ao ler estes versos,
    memórias que ficam belas e prolíficas
    nos tempos da casa azul,

    Apesar e Por tudo,
    um abraço forte te envio, com os desejos sinceros do melhor em tudo para ti rapaz,

    Com um sorriso,
    na aprendizagem artística e pessoal indelével que tive contigo,

    Diogo Da Costa Leal

    ( diogocleal@live.com.pt )

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